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Fim de tarde de um sábado. Sentados na mesa de uma praça de alimentação qualquer, num shopping qualquer, Ricardo e Leandra jogam fora amenidades. Der repente aparece uma ruiva, cabelo amarrado, pele branca, barriguinha de fora. Leandra suspira, lamenta:
Leandra: Queria viver numa sociedade onde as mulheres pudessem vestir o que quiserem vestir, sem que os homens vissem malícia nisso.
Ricardo, poético, suspira e lamenta:
Ricardo: Queria viver numa sociedade onde trabalhar não fosse uma escravidão, onde o tempo com a família e os amigos, dedicado a fazer o que se quer fossem maiores.
O filho do casal – que até então era um anônimo na história – desfere:
Filho: Queria viver numa sociedade onde a criança não fosse uma criação do adulto – oca, sem juízo, imaginação, desejo, que precisa ser lapidada.
Uma das mulheres que bebia na mesa ao lado, de um só trago toma tudo, olha para os homens da mesa a frente que a observam estupefatos, diz:
Mulher: Queria viver numa sociedade onde beber não fosse um ato masculino, onde uma mulher possa beber, se embriagar, perder as estribeiras, sem ser rotulado de vagabunda ou puta.
Um negro, espectador da cena que se desenrola, passa de espectador quieto à participante ativo.
Negro: Queria viver numa sociedade onde o negro não diferente do branco, onde o branco não fosse diferente do negro – onde o importante não é a cor, mas o respeito a humanidade, a dignidade; onde os olho tortos fossem dados aos que desrespeitam o outro, não aos que tem uma cor “diferente”.
O casal que se beijava (dois homens jovens) entrou no protesto de fim de sábado:
Homossexuais: Queríamos viver numa sociedade onde o amor fosse respeitado, onde o comportamento e a orientação sexual de cada um não fosse julgado; Onde heteros e homos pudessem se olhar sem estranhamento...
O diálogo finaliza bruscamente. Infelizmente, a sociedade que temos não é a que queremos... e estamos certos e não ficar com a sociedade, só porque a temos. De braços descruzados e mãos dadas, indo à luta, teremos a sociedade que queremos: sem monopólio de uma classe, sem preconceito, sem ódio, desrespeito, divisão de classes. Sonhar é bom, mas sonhar com a mão na massa é bem melhor.

                                       Felipe Catão Pond

                                              09/07/2016 

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