O menino e o Corvo.


Em uma casa na capital do Amazonas, nasceu um menininho, em pleno carnaval Brasileiro, em uma noite calorosa, quando os parentes vinham ver o menino a primeira impressão era que o menininho era preto.
Dizia o primo do menininho para avo
-Olha vó ele é bem pretinho.
E todo mundo concordava. Por que ele era preto mesmo.
Um dia o menininho estava dormindo e pela janela próximo ao berço ele olhava as arvores lá fora, com aquela vista um pouco embasada de quem ainda não consegue ver nada, de quem ainda está descobrindo seu novo mundo, diferente do aguoso ventre da sua mãe, o mundo era solido e algumas vezes liquido, ele catalogava em sua mente.
-A água da banheira é liquida, mas a banheira é solida, o leite que sai da mama de minha mãe é liquido, mas a mama é solida, meus brinquedos são sólidos, o meu berço é solido, mas é fofo e confortável.
As coisas que o menino conseguia tocar ele sentia com a mão e com a boca, era um prazer enorme colocar o mundo na boca, ele provava o mundo com suas gengivas.
Voltando a janela que o menino olhava enquanto provava o mundo com a boca, achou lá fora um coqueiro, uma arvore que balançava de um lado para o outro com forme o vento, olhando mais um pouco o menino viu vários pássaros, eles eram pretos, do rabo esquiçado e um pouco aberto, tinha um bico sinistro, e um olha meio psicopático, mas era só um corvo, um corvo no interior do Amazonas que eras diferente dos da Europa, eles eram pequenos e chamados de filhotes de urubu.
O menino se identificava com o corvo, por que o pássaro era preto igual o menino, ali naquela janela nasceu uma amizade e admiração do menino e do corvo, os dias passavam e o menino falava com os olhos e o corvo se exibia para chamar atenção do menino, eles não se falavam além do mais bebe não fala, mas fazia gestos e gritava para o corvo e o corvo gritava pro menino também.
Um outro dia o corvo de mansinho posou na janela do menino, e eles ficaram lá se olhando, o corvo sentia o menino e o menino sentia o corvo, eram almas gêmeas, de menino e pássaro, até que chegou a avo do menino e deu um grito tão alto que assustou o corvo para longe, a mãe do menino correu pra ver o que aconteceu com a vó, e avo só gritou.
-Feche a janela o pássaro maldito pousando perto do berço, trazendo mal agouro para o curumim, isso traz uma má sorte danada.
A mãe manteve as janelas fechadas até o menino crescer um pouco, e o menino ficou triste, sentindo a falta do seu amigo, quando o menino começou a falar o menino já falava Piu-Piu, era como ele identificava o pássaro, ele imitava o corvo, ele pensava que ambos eram da mesma espécie, de tão preto que eles eram. Quando ele saia no colo da mãe, ele olhava para arvore atrás do seu amigo, as vezes ele estava lá, as vezes não, o que deixava o coração do menininho um pouco triste, mas as janelas da alma não podem ser fechadas para sempre e o menino foi crescendo e conhecendo o jardim, o pássaro estava lá ao seu lado todos os dias, eles brincavam, o menino corria e o pássaro voava, eles eram unha e carne, o menino ia na taberna o pássaro ia junto, o menino ia a creche, lá fora o pássaro pela janela o esperava, o menino era de poucos amigos, por que o mundo era estranho de mais pra um menino corvo, foi como ele ficou conhecido, por ser amigo do passarinho, as mas línguas diziam até que o menino carregava uma maldição por ser tão próximo assim do bichinho, mas os dois eram felizes.
Em uma manhã calorosa, o menino ficou de castigo pois brigou com um colega na escola por ter sido chamado de menino do corvo amaldiçoado, ele não achava ruim ser o menino do corvo, ele era mesmo, mas amaldiçoado, já era de mais para os dois.
O colega que tinha brigado, já tinha se decidido ia lá no jardim do menino e de mansinho iria matar o passarinho com seu estilingue. No castigo o com a janela aberta o menino falava com o corvo e a mãe furiosa fechou a janela.
-Égua de menino que só quer viver com esse bicho! Resmungava a mãe.
E o menino muito triste, ali por estar longe mais uma vez do seu amiguinho.
E de mansinho foi o colega, com seu estilingue atravessou o jardim do menino sem ninguém vê, olhou para o coqueiro e atirou e quebrou a asa do passarinho.
O menino só ouvia o choro do pobrezinho e desobedecendo a mãe correu para ver o pobrezinho, que estava lá com a assa quebrada, o menino chorou, e a mãe vendo tudo deixou o castigo pra la, a saúde do corvo se desgastou, e quando caiu a noite ele estava prestes a morrer, e o menino não compreendia a dor do coitado, o menino dizia.
-Levanta Corvinho, vamos voar e brincar.
O pai do menino vendo a agonia do passarinho sugeriu jogar uma pedra para acabar com a dor do passarinho, mas o menino não deixou, não deixou por que ainda tinha esperança de o pássaro levantar o voo e sobreviver, mas já era tarde o passarinho já não voava na terra, voava no céu dos passarinhos, onde existe o Deus dos passarinhos, onde todos os passarinhos vão quando morrem.
O menino sonhou naquela noite que o corvo aparecia para ele, ali naquele sonho e dizia:
-O menino eu fui para o céu, mas nós seremos sempre corvo eu e o menino, o mundo é sinistro de mais pra nos dois, caminha sozinho que eu voo.

E o menino nunca mais foi o mesmo, agora o menino, não era mais o menino do corvo, mas eram um menino marcado pelo corvo. 

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