O amor é uma semente


Sabemos que uma semente carrega dentro de si a arvore que ela vai se tornar mais tarde, a carrega como potência. Ou seja, a semente já é a arvore, de outro modo, porém – com outro formato. Para que ela possa desenvolver seu potencial e se tornar, efetivamente, uma árvore saudável, forte, capaz de produzir frutos apetitosos, precisamos ter alguns cuidados. É preciso plantar a semente na terra, um lugar escuro, úmido, asfixiante. Depois, precisamos regar, de modo a não colocar pouca água – para não faltar – e não colocar uma excessiva quantidade de água, para que ela não morra empossada. É preciso, também, colocar adubo na terra. Fertilizantes naturais, como cascas de batata ou de outras frutas, esterco, folhas em estado de putrefação, para que o solo fique mais fértil e a semente fique mais forte. A árvore presa na semente rebenta, quebra o seu primeiro formato e sai timidamente da terra, se tornando um broto. Nesse ponto, há a necessidade de manter (e até redobrar) os cuidados: regar na medida certa, deixar que ela receber a luz e o calor do sol (sem excesso também, porque ela pode morrer), cerca-la para que animais e pragas não devorem o pequeno broto. E assim a arvore, sendo muito bem cuidada, vai crescendo até se tornar uma árvore bonita, robusta, saudável, com frutos gostosos – tão grande a ponto de fazer sombra, permitir que os pássaros a procurem para fazer seus ninhos, que seus frutos, caindo na terra, produzam mais vida, mais árvores. Assim é o amor: na primeira troca de olhares dos amantes, ele já está lá, com todo seu potencial esperando para se desenvolver.

**********************************************************************

Certo homem, no labor diário de seu oficio, encontrou certa tarde o pedaço de uma semente. Era uma semente diferente, a começar pela cor: um pouco avermelha, com tons de marrom; seu aspecto físico também era diferente: mais firme que as demais, parecia feita de vidro, sólida. Que semente era aquela, o homem se perguntou. Catou, guardou ela no bolso e seguiu sua vida. Um dia, enquanto trabalhava, apareceu uma jovem pedindo água. Seu cabelo era vermelho como o crepúsculo, seus olhos grandes, curiosos, sua voz suave, quase apática; sua pele era morena. Pediu água e ele, gentilmente, deu. Ele parecia conhece-la, ela também. Porém, nenhum dos dois se atreveu a perguntar de onde se conheciam, ou como se conheceram. Falaram amenidades e ela lhe contou sobre uma semente estranha que havia encontrado (não bem uma semente, mas uma parte dela). Ele ficou intrigado, pediu para ver e ela mostrou. Um calor invadiu o corpo dele. Será possível? – é a parte da semente da qual ele havia achado metade. Empolgado, ele se abaixou, pegou numa caixinha onde guardava sua metade como se fosse um tesouro. Ela ficou intrigada e conversaram um tempo, tentando entender o como e o porquê daquela situação. Não se dando conta de que cada um possuía a metade da semente e de que poderiam juntá-la para ver o que aconteceria, cada um tomou seu destino: ela para casa, ele permaneceu no seu trabalho. A noite, sentindo uma coceirinha que o inquietava, decidiu falar com ela. Ligou. Ela esperava. Conversaram a noite inteira e decidiram se encontrara na manhã seguinte para juntar suas sementes e ver o que aconteceria. Na manhã seguinte, encontraram-se e, ao juntar a semente, viram ela tomar uma outra forma, como que por mágica: ela se tornou uma semente normal, com aspecto frágil como qualquer outra. Decidiram plantá-la e cuidar dela. E foi o que fizeram.
A semente cresceu e se tornou um broto. Estava muito exposta ao sol, aos temporais, aos animais e pragas. Isso afetou o pequeno broto. O tempo deles para a semente era pouco, porque ambos moravam longe um do outro, e longe de onde plantaram a semente. Foi então que decidiram acabar com a distância e foram morar num casebre perto donde plantaram a semente. Dedicaram ainda mais cuidado ao broto. Às vezes, porém, se excediam quanto a quantidade de água, de sol, que davam ou deixavam o broto tomar e ele quase morreu mais de uma vez. Outras vezes, foram displicentes e permitiram que as pragas atacassem o broto, que já era uma linda plantinha. E as pragas consumiram quase toda ela, quase matando-a. Eles retiraram as pragas, uma a uma. Haviam lagartas com espinhos que causaram queimaduras em ambos, mas eles souberam eliminá-las. Deixaram ela desprotegida, certa vez, e choveu tão forte, vieram ventos tão fortes, que ela quase desmanchou inteira. Mais uma vez, culpados, eles tornaram a cuidar dela – com mais atenção agora. E a fizeram ficar mais forte, maior. Ela cresceu, virou uma linda árvore e já até deu frutos. Eles continuam cuidando dela, vigiando para que ninguém a derrube. As vezes ainda deixam feri-la, ela sangra com sua seiva amarelada, mas eles procuram conter o machucado que fez sair a seiva e ela volta ao normal. Aprenderam, inclusive, que a seiva é boa para a saúde e que, de vez em quando, é bom machucá-la para que ela (e eles) fiquem mais forte e saudáveis...

***************************************************************************

Dois anos se passaram, meu amor, desde o dia que decidimos cultivar a semente do nosso amor. Passamos por tantas coisas, por tantos momentos, bons e não muito bons e já chegamos tão longe que posso respirar e dizer que sou feliz ao teu lado. Pode não parecer, porque o tempo altera a aparência do que chamamos de realidade, mais mágica chama do que sinto por você permanece acesa e conservada. Produzimos frutos tão lindos. O maior deles, nosso filhote, nosso Rei. Tivemos tantas conquistas, crescemos tanto... um ajudando o outro, nesse crescimento. Os excessos vieram, claro, para nos dar um choque de realidade e mostrar que a vida não é sempre feita de mel, mas que possui ervas amargas também; e que se temos a capacidade de comer as ervas amargas sem desistir por causa, o mel se torna ainda mais doce. Eu sou muito mais feliz, mais vivo e mais EU com você ao meu lado. Eu te amo com toda minha força, com todo meu ser, com todas as minhas vísceras!


PARABÉNS MEU AMOR!!!

(Felipe Catão)

Comentários

Postagens mais visitadas