Bem-aventurados os pobres
“Erguendo então os olhos para os seus discípulos, dizia: Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Felizes vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. Felizes vós, que agora chorais, porque haveis de rir. Felizes sereis quando os homens vos odiarem, quando vos rejeitarem, insultarem e proscreverem vosso nome como infame, por causa do Filho do Homem. Alegrai-vos naquele dia e exultai, porque no céu será grande a vossa recompensa; pois do mesmo modo seus pais tratavam os profetas. Mas ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação! Ai de vós, que agora estais saciados, porque tereis fome! Ai de vós, que agora rides, porque conhecereis o luto e as lágrimas! Ai de vós, quando todos vos bendisserem, pois do mesmo modo seus pais tratavam os falsos profetas”.
(Lc 6,20-26)
Existe uma diferença entre as "Bem-aventuranças" da comunidade de Lucas e as "Bem-aventuranças" da comunidade de Mateus. Provavelmente, elas tiveram uma fonte em comum, porém, cada uma escreveu a partir de experiências diferentes.
A princípio, parece que Jesus está propondo uma pauta sectária, exaltando os pobres e condenando os ricos. Porém, o que Jesus faz é propor uma reflexão. E essa é a diferença do Evangelho de Mateus (que propõe nas suas "Bem-aventuranças" um projeto de vida) e a comunidade lucana. Jesus não condena as riquezas. Jesus condena o modo como se utiliza essa riqueza. Jesus critica, por exemplo, o fato dos ricos não utilizarem seus bens para ajudar aos pobres, os necessitados (cf. Lc 16, 19-31); critica a atitude de juntar as riquezas apenas para si mesmos (cf. Lc 12, 21); critica o fato dos ricos não reconhecerem a fonte de seus bens (cf. Lc 21, 3-4) ou que se deixavam prender pelos seus bens (cf. Lc 18, 24-25). As riquezas impediam as pessoas de confiar em Deus (cf. Lc 12, 22-24).
Esse é o ponto: os pobres, os necessitados são "Bem-aventurados" ou Felizes no Reino de Deus quando o que produz sua miséria é o acumulo de riquezas, a divisão desigual das riquezas e das oportunidades. Não é Deus quem condena os acumuladores, os opressores, os produtores de desigualdades, mas são eles que condenam a si mesmos ao andar em desarmonia com a justiça de Deus. Aqueles que tem muito são responsáveis diretos pela vida daqueles que tem pouco ou não tem nada. Portanto, se alguém passa fome e nós temos condições ou recursos que podem ajudá-los, mas os deixamos com fome, estamos condenando ele a fome e condenando a nós mesmos diante da Justiça do Reino - porque mesmo podendo, não o ajudamos.
Diante da miséria de uma sociedade que padece com o desemprego, aqueles que tem recursos para ajudá-los, dando oportunidade para que todos possam ter as condições básicas de subsistência (moradia, alimentação, lazer, educação e saúde), os políticos, gestores públicos, empresários; se não criam essas oportunidades são os responsáveis diretos pelas misérias (e suas consequências) na sociedade. Principalmente se desviam os recursos destinados para a manutenção da vida das pessoas e da sociedade.
Aqueles que sangram o Estado com a corrupção são os assassinos dos inocentes, dos pobres, dos jovens, dos negros e devem prestar contas a Deus e a nós, cidadãs e cidadãos. Quem sofre com a opressão, com a desigualdade de riquezas e de oportunidades, com o desemprego e o genocídio, deve cobrar daqueles que são eleitos responsáveis como representantes da população; deve cobrá-los e, não havendo mudança, destituí-los do poder. Porque um poder corrupto, que se serve, não serve para a sociedade. Ai daqueles que criam condições de opressão e pobreza, porque serão cobrados e terão que prestar contas a nós e ao Pai/Mãe!
(Felipe Catão)


Comentários
Postar um comentário
Exponha sua opinião, sem medo.