Um dia qualquer
Era uma dessas tardes
comuns. O dia estava começando a ficar agradável, talvez porque a noite estava
se aproximando. Ricardo estava acompanhando Laura até em casa. Ele havia
escolhido um caminho alternativo. Sua intenção era de que eles demorassem a
chegar à casa de Laura. Gostaria de passar ainda algum tempo ao lado dela. Para
isso, evitou a avenida principal. Não só por causa disso, mas para evitar o
frenesi que são as cidades grandes nos fins de tarde com todos os seus
congestionamentos, estresse, selvageria. Toda essa pressa não combina com o
amor de um jovem casal.
Ricardo sugeriu que
pegassem um atalho. Laura hesitou. Algo dentro dela dizia que evitassem aquele
caminho. Ricardo, porém, insistiu, dizia conhecer muito bem aquele caminho.
Como, quis saber Laura. Ricardo então relatou que costumava apanhar este atalho
quando fugia de casa, na adolescência, para se juntar os amigos. Contou,
inclusive, como quase tinha morrido a dois quarteirões dali, numa briga com
dois pivetes (nas palavras dele). Laura sentiu um frio na espinha. Não fala
mais sobre isso, pediu. E Ricardo acatou o pedido. Caminharam um pouco em
silêncio, de mãos dadas. Laura se sentiu mal por ter sido áspera, mas não sabia
como pedir perdão. Apenas abraçou Ricardo, que a beijou. Continuaram seu
caminho.
Há nove meses
namoravam. Haviam se conhecido na escola, na época em que Ricardo fazia o
segundo ano do ensino médio e Laura havia recém saído do fundamental. Tinham
amigos em comum, mas sem o saber. Até que um dia o grupinho resolveu beber detrás
da escola. Nunca haviam se falado até aquele dia. Ricardo namorava uma amiga de
Laura. Laura apenas ficava com um rapaz da sua igreja. Porém, nesse dia, talvez
por efeito do álcool, acabaram ficando. Ricardo tinha fama de pegador; Laura,
de quietinha. E por isso, Laura encarou aquilo como algo de uma tarde, apenas.
E assim foi. Se tornaram amigos, o que acabou desagradando a namorada de
Ricardo na época. Ela pediu que Ricardo se afastasse de Laura e ele o fez,
ainda que contrariado. Meses depois terminaram, por outras razões. A amizade de
Laura e Ricardo seguiu até o dia em que descobriram a paixão. Dessa vez, não
numa “festa”, mas num culto dominical. Detrás da igreja, houve de fato o
primeiro beijo de amor entre eles. E desde então, começaram um namoro quieto,
sem muitas emoções.
Passavam pela praça
quando três homens se aproximaram. Ricardo os notou e sugeriu que apressassem
os passos. Laura consentiu, porém já era tarde. Um deles se aproximou e pediu a
mochila de Laura. Ambos estavam nervosos. Laura ainda estava mais assustada.
Olhou para Ricardo e este fez um afetuoso sinal para que ela entregasse. Ela
entregou. O assaltante, porém, não satisfeito, passou as mãos na barriga de
Laura. Dentro de Ricardo, um sentimento de raiva começou a se desperto. O assaltante
puxou Laura pra si, olhando fixamente para Ricardo. Ricardo pediu que os
deixassem em paz, que já haviam pego o que queriam. Provocando-o, disse o
assaltante, Quero ela. Ricardo ficou descontrolado. Partiu pra cima do
assaltante e deu-lhe um soco. Um outro, que estava atrás de Ricardo, puxou um
revolver e deu três tiros em Ricardo – a queima roupa. Ricardo caiu desfalecido
e os assaltantes saíram correndo. Laura sentiu seu mundo desmoronar. Não quis
acreditar que bem ali, a sua frente, jazia o que ela então acreditara ser o
homem da sua vida. Entrou em pânico e desesperada começou a gritar por ajuda.
No corredor do
hospital, a assistente social anunciou a morte do jovem.

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