O discipulado e a Cruz


"Jesus convocou em seguida o povo com os discípulos e disse: 'Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por amor de mim e pela causa do Evangelho, há de salvá-la' ".
(Mc 8.34-35)

O objetivo do Evangelho de Marcos é responder a pergunta sobre quem é Jesus. Descobrindo quem ele é, ao longo do texto, aqueles que iniciavam sua caminhada na fé eram levados a se confrontar com ele. Desse modo é que percebiam o que é ser cristão. É por esse motivo que a pergunta "Quem é Jesus?" é a segunda e fundamental pergunta que atravessa todo o Evangelho de Marcos, levando os cristãos daquele período e daquela comunidade, para qual o Evangelho de Marcos foi escrito (70 d.C.), e também nós, cristãos do Séc. XXI, a encontrar neste confronto, a resposta sobre o significado do discipulado.

O Evangelho de Marcos se divide em duas partes: a primeira parte termina em 8.30 com a afirmação de Pedro: "Tu és o Cristo" (o Messias)! (v.29); o intuito da primeira parte era levar os leitores de Marcos ao reconhecimento de que Jesus é o Messias. O objetivo da segunda parte (a partir de 8.31) era mostrar que tipo de Messias era Jesus e, a partir daí, do confronto sobre quem Jesus era, responder a pergunta: o que significa ser discípulo de Jesus? O v. 34 (texto acima), impõe três condições para ser discípulo do Messias: renunciar a si mesmo, tomar a cruz e seguir a Jesus. 

Renunciar a si mesmo, significa renunciar a toda ambição pessoal; é não querer ou exigir previlégios, beneficios, títulos, seguidores, elogios como pagamento pela causa do Evangelho, mas significa ser pobre, rompendo em definitivo com as estruturas de poder da sociedade que quer matar Jesus. 
Tomar a cruz é aceitar ser perseguido e, se for necessário, ser condenado a morte pela sociedade que vai matar o profeta, o justo: significa, também, carregar os pecados do próximo, ser solidário as suas dores, seus dramas, signfica acolhê-lo, ainda que ele não mereça, de acordo com o julgamento do mundo. 

Seguir Jesus significa aceitar ser banido, inclusive do seio da estrutura igreja, do templo, marginalizado, ir com ele até o fim, enfrentando a hostilidade de uma sociedade injusta, corrupta, ati-ética, que levou o Mestre de Nazaré a morte. Concretamente é isso que significa "perder a vida". Porém, Jesus garante: quem perde a vida por amor a ele e pela causa do Evangelho, a salvará (cf. v.34), pois ele ressuscitou e é ele o Senhor da Vida.

O discipulado exige compromisso com o Evangelho e ação concreta na sociedade, fazendo uma opção preferencial pelos pobres, marginalizados, os pecadores públicos que tem sua dignidade humana negada e inferiorizada; exige o rompimento com as estruturas que produzem morte, ainda que isso leve o discípulo a ser excluído, julgado, marginalizado, rotulado e até morto. 
Deixo algumas questões: quem é Jesus para nós, hoje? Qual o Messias que nossas igrejas, nossas comunidades, nossos líderes seguem - um Messias distante, ideal, das nuvens para cima, ou um Messias Libertador, que suja os pés na estrada, como com pecadores, acolhe os que são excluídos? Como traduzir nossa fé, mostrando que tipo de Messias é Jesus, em nossa sociedade, hoje?
(Felipe Catão)


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