Orar é lutar




"Saúda-vos Epafras, vosso conterrâneo, um servo de Jesus Cristo. Ele sempre luta por vós em suas orações para que, numa convicção plena e perfeita, permaneçais inteiramente submissos à vontade divina".
(Cl 4.12)


É interessante notar, neste trecho da carta do apóstolo Paulo aos colossenses, a associação que ele faz entre lutar e orar, quando se refere ao amigo Epafras: "ele luta por vós em suas orações". Vale lembrar que lutar, aqui, não tem o sentido de violência, rivalidade, inimizade ou destruição dos outros. É uma luta contra o egoísmo, para vencer o pecado, o individualismo e tudo aquilo que nos afasta de Deus e da harmonia que temos com ele. Orar, nesse sentido, significa estar conectado com a vida. É, verdadeiramente, uma luta contra Deus que, muitas vezes parece distante, parece não se importar com o sofrimento humano. No final desse confronto, dessa luta, entendemos que a oração autêntica não nos livra das dificuldades da vida, tampouco muda as situações difíceis que enfrentamos no dia-a-dia e na vida, mas muda a nós mesmos e nos dá a força da graça de Deus para superar e enfrentar essas situações.

Desse modo, não existe oração que não é atendida, pois a verdadeira oração faz nascer uma mulher e um homem mais livres, autênticos, solidários, por não pertencerem mais a si mesmos. Cria, pela fé, sintonia com Deus. E viver em sintonia com Deus nos faz ser mais humanos, mais livres, compassivos e serenos: nos faz ser nós mesmos - imagem e semelhança de Deus. Sem o esforço diário de perdoar, de se colocar a serviço do próximo, não existe oração verdadeira.

Noutro episódio da bíblia, em Gn 32, vemos uma emblemática história de luta entre Jacó e Deus, durante toda a noite, quando Jacó tenta atravessar um córrego. No fim da luta, Jacó quer saber o nome daquele com quem ele lutou a noite inteira: "E Jacó lhe pediu: Dize-me, por favor, teu nome. Mas ele respondeu: Para que perguntas por meu nome? E ali mesmo o abençoou" (Gn 32.30). Jacó descobre que não existe a necessidade de saber o nome dele: ele o revelará no dia-a-dia da caminhada de quem nele confia. E nessa oração - e luta - Jacó recebe sua própria identidade: "E ele lhe disse: De ora em diante já não te chamarás Jacó, mas Israel, pois lutastes com Deus e com homens e vencestes" (Gn 30.29).

Nossa luta com Deus é durante toda a vida e pode acontecer todos os dias, pois ele quer nos ajudar a vencer as dificuldades, quer nos dar forças, a nos libertar do pecado e do egoísmo, porém resistimos a ele e tentamos afastá-lo, porque temos medo que ele tome conta de nós. Contudo, quando nos rendemos a ele, somos chamados pelo nosso verdadeiro nome, conhecemos nossa verdadeira identidade, sabemos  quem de fato pertencemos. Nos tornamos pessoas maduras no relacionamento com ele e com todos aqueles que nos cercam. Nesse sentido, usar o nome de Deus em vão é invocá-lo para justificar nossa imaturidade, nossas atitudes de desistência, covardia covardia e submissão.

A oração não depende de técnicas, ela de te pende de uma vida concentrada no essencial. Não há vida de oração sem o esforço de desapegar-se dos desejos, ilusões, pessoas, bens materiais e intelectuais que nos impedem de confiar em Deus. A oração é uma necessidade vital; orar é não poder deixar de orar, tal como não se pode deixar de respirar. Acima de tudo, a oração é um complemento da vida e está conectada com a realidade. Não existe oração desconectada da realidade. Portanto oração é luta e ação! 
(Felipe Catão)


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