O poeta e o corvo


Era um castelo rodeado por gralhas
e no porão havia um poeta
que alumiado por uma vela
ouviu acima um bater de bico
de um corvo a fazer:
Crá-crá-crá.

Arrepiou-te até a alma
ao ouvir grito tão familiar.
Largou a pena e subiu correndo
para em cima
nada além do silêncio
                       [encontrar.

Quarto escuro
atravessado por um fio de luz
que no silêncio era sombrio
absorvendo o poeta
que em devaneio chegou a pensar:
será minha consciência a gritar?

E do fundo
lá do porão
soou um grito rouco
que lhe pareceu familiar
e de novo ouviu o poeta:
Crá-crá-crá.

Correu atônito
apressado.
E na vontade de ver o corvo
ignorou a longa escada
e a sombra repentina
um tombo o fez tomar.

Crá-crá-crá
de novo ouviu o poeta
que se deparou ao despertar
com um jovem vestido de fraque,
sombrio.

E ao olhar em seus olhos
ouviu no subconsciente ressoar
o Crá-crá-crá
do corvo familiar.
E reconheceu com muito medo
que o tal corvo familiar
era no fundo de sua alma
                      [ele mesmo.

(Felipe Catão)


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