Só é possível ser livre agindo politicamente

A liberdade é ação com responsabilidade. Isso implica dizer que o ser humano é extremamente responsável por si e pelos seus atos; ainda que esteja aparentemente condicionado por situações de alienação, ele pode ser livre, pois não está determinado pelas forças da natureza e nem necessita dessa determinação. Tampouco o ser humano é servo da tirania do Estado, da sociedade ou de qualquer outra instituição. O ser humano é o único ser que age sabendo o que faz e porque faz. Ele não está apoiado em nada que possa significar uma tutela institucional.

A liberdade não se efetiva no plano do discurso, mas só existe, de fato, onde houver espaço para ser exercida. E a máxima expressão da liberdade se efetiva na ação política e intelectual, pois é ela que abre espaço para a construção da própria liberdade e se dá a instauração da Democracia. O ser humano que não atua politicamente na sociedade, reduz e limita suas potencialidades e, consequentemente, reduz e limita a potencialidade dos outros. 

A sociedade é uma organização política, desde seu nível micro (relações de parentesco), até seu nível macro (Estados Nações) e a famigerada globalização. Todo espaço humano é um espaço de liberdade.

Como disse Sartre, o ser humano está condenado à liberdade, ainda que não saiba. Não há nada que doravante o determine, mas há condições sociais, religiosas, culturais, políticas e econômicas que podem limitar a atuação humana. Porém, não há como fugir da liberdade – somos sempre livres, embora nunca plenamente livres. Isso quer dizer que a liberdade não é uma fantasia, que ela está diante de um limite político e que só pode ser superado politicamente. Se o ser humano não utilizar sua liberdade para se libertar desses condicionamentos (religioso, político, econômico, religioso), permanecerá para sempre prisioneiros dos próprios condicionamentos.

É por isso que a liberdade implica ação direta com o nosso ser no mundo e com o ser dos outros. Pode-se dizer que o grau de liberdade e de consciência pode ser visto pela medida em que o ser humano assume um compromisso com o outro. Essa responsabilidade é uma ação política comprometida com um processo de mudança das estruturas injustas da sociedade na qual nos encontramos. Lutar politicamente contra todas as formas de injustiça existentes na sociedade é expressão máxima da liberdade autêntica.

Ser livre não é fazer o que “eu quero”, mas é lutar politicamente para que aquilo que quero seja possível. Nem tudo que queremos é possível e, por vezes, não é possível sequer querer. É por isso que é necessário assumir a liberdade como ação política comprometida com a mudança, pois somente assim podemos transformar nosso querer num poder de mudança. Fazer isto é ser livre. A liberdade é uma luta para mudar o que é tradicional e que busca conservar a várias formas de exploração, seja através dos sistemas econômicos injustos, seja através da religião com sua metafísica para alienação, por exemplo. Essa forma de ser livre só é possível pela ação política.

(Felipe Catão)